terça-feira, 19 de maio de 2009

Bate-papo dia 21

Quinta-feira agora teremos um bate-papo sobre a nossa viagem. Mostraremos fotos, vídeos e poderemos contar como foi a experiência. Será na sede do Zungu, a partir das 19h00.

Rua Almirante Marques Leão, 787 - Bela Vista.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

domingo, 5 de abril de 2009

Olho brasileiro 5



Trabalho em Bali

Bali eh um dos destinos de ferias mais procurados no mundo. Mas a gente estava lah para trabalhar tambem. Por isso, fomos ateh os locais onde nosso amigo Noko dah aulas. No primeiro, muita conversa e ritmo. No segundo, muita capoeira e samba-de-roda. A gente tentou deixar aquelas praias um pouco mais brasileiras.





Bali: terra de mandinga forte

Se alguem acha que Salvador eh uma cidade cheia de locais sagrados e magia eh porque ainda nao foi a Bali. Aqui, todas as esquinas tem um lugarzinho sagrado. Toda encruzilhada recebe comida. Todas as lojas deixam oferendas na porta. E o que nao falta eh templo. Ao mesmo tempo, a ilha eh um paraiso do consumo. Marcas locais, grifes famosas, lojas de surf, restaurantes. Tudo convivendo com a tradicao local, logico que afetada pelo turismo (europeus e americanos invadindo a ilha) e pelos surfistas. Praias lindas, templos, campos de arroz, a floresta sagrada dos macacos. Muitos gringos e malucos do mundo todo. E aqui tambem eh possivel encontrar nosso amigo Noko, um grande capoeirista local, que pediu para a gente dar uma forcinha aqui.

Adeus, adeus

Para terminar nossa visita a Surabaya, o Caca deu uma aula de capoeira que arrancou aplausos de todos no shopping center (no dia seguinte ao batizado). Foi dificil a despedida naquele dia. A noite, fizemos um jantar para a viagem de volta do pessoal do Timor Leste. Eles agora sao parte da nossa familia e nos despedimos com um "ateh breve", em portugues mesmo. Na segunda, uma reuniao final com o pessoal de Surabaya. Conversamos muito sobre capoeira e cultura brasileira. Todos agora tem uma meta: conhecer o Brasil. A parte de Surabaya terminou por enquanto. Mas fomos convidados pelo Noko (Tarzan), nosso grande amigo, a dar um pulo (ou uns pulos) em Bali. Depois, o Mestre Ousado pediu tambem para irmos a Jakarta. O BRASIL VISITA continua, agora em outras cidades da Indonesia. Terimah kasi, Surabaya.

Ouvindo o berimbau pela primeira vez

Antes de deixarmos Surabaya, resolvemos fazer algo inedito. Fomos ateh uma vila, um bairro bem simples. Paramos em uma esquina, em frente a uma vendinha, onde seis gatos pingados estavam parados. Soh a nossa presenca ali jah chamava atencao. Aquelas pessoas nunca tinham visto um ocidental pessoalmente.
Aih, comecamos a tocar os berimbaus e o pandeiro. Foi inacreditavel. Aqueles seis gatos pingados se transformaram em mais de 100 pessoas. A esquininha ficou parecendo uma praca, o transito parou. As pessoas comecaram a interagir, bater palmas, responder ao coro. Algumas senhoras mais ousadas chegaram a ensaiar uns passinhos de samba. Hoje em dia, isso eh coisa muito rara. Conseguir encontrar um grupo grande de pessoas que, mesmo vivendo em uma grande cidade, nunca sequer ouviu um berimbau. E, depois de nossa passagem por Surabaya, isso vai ficar mais raro ainda.

sábado, 4 de abril de 2009

Eu sou angoleiro

Na manha do evento, os indoneses tiveram mais uma aula de capoeira angola. Professor Marcelo pegou uma turma grande e, com a ajuda do Caca e do Cabeleira, deu uma grande aula. Muita movimentacao, muito ritmo e, principalmente, muita conversa sobre fundamentos e tradicao. Mestre Ousado tambem estava presente, observando e ajudando no pandeiro. Ao final, o Marcelo decidiu terminar a aula com uma roda. E foi uma bela roda, com muita energia, onde todos participaram.

Capoeira, maculele e samba no shopping center (mall)

Depois de muitas aulas durante a semana, tivemos um grande evento no principal shopping center de Surabaya. 'E mais ou menos como se tivessemos feito uma festa de capoeira no Shopping Iguatemi de Sao Paulo. Aqui, eles nao tem preconceito em relacao aa capoeira, soh curiosidade. Por isso, em um ambiente frequentado pela elite de Surabaya, pudemos mostrar um pouquinho da nossa cultura. Pessoas de outras cidades da Indonesia e muitos capoeiristas da cidade compareceram (inclusive capoeiristas de rua, uma vez que - obvio- nao cobramos de ninguem pela participacao). O Caca passou uma aula para mais de 50 criancas que quase parou o shopping e fez muito adulto brincar. Depois comecou o batizado: a primeira graduacao dos pequenos e troca de cordas. Um descanso e apresentacao de uma especie de peca baseada na vida de Zumbi de Palmares e uma demonstracao de maculele. A tarde rolou muita capoeira (roda e mais trocas de graduacoes, agora dos adultos). Entre os convidados, estava o Mestre Ousado, brasileiro que dah aula em Cingapura e um dos pioneiros aqui na Asia.Ao final, as indonesas colocaram suas saias rodadas (algumas colocaram sarongs mesmo) e fizemos um bonito samba-de-roda, bem tradicional e alegre. Um dia normal de boa capoeira, soh que aqui do outro lado do mundo.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Um mosqueteiro a menos


Os tres mosqueteiros eram, na verdade, quatro. E nos tambem. Comecamos a viagem como quatro pessoas e achamos que era assim que terminariamos. Mas o Sorriso (Andre) teve que nos deixar. Problemas familiares e inadiaveis o fizeram voltar ao Brasil antes da hora. Aqui, eles fez o que devia: ajudou a mostrar aos indoneses nossa cultura e cativou muita gente desse lado do mundo. Boa sorte, irmao. Estamos juntos.


quinta-feira, 2 de abril de 2009

Silat: o pau quebra na Indonesia

Muitos acham que a capoeira eh uma das unicas lutas do mundo com musica (alem da Ladja, lah na nossa America Central). Viemos achar outra aqui. O silat, que eh impressionante.
Dificil descrever a luta. Eh claramente oriental, parente de um Kung Fu. Em alguns momentos, usa chutes, saltos e socos. Em outros, torcoes e quedas. Tambem usa facas e bastoes.
Tres tambores (como nossos tres berimbaus) acompanham os lutadores, mas ao contrario da capoeira, nao sao os tambores que impoem o ritmo aos lutadores. Eh o ritmo deles que os tambores tem que acompanhar.
Vimos uma demonstracao em uma escola bem simples em um bairro pobre. Eram apenas criancas. Mas lutavam como gente grande. Uma menininha em especial (ficamos sabendo bem depois que era uma campea nacional) fez com que a gente nao tirasse os olhos da luta. Movimentos precisos, perigosos, duros- mas de extrema beleza. O professor estava tenso e feliz ao mesmo tempo, por apresentar sua luta aos estrangeiros brasileiros. Os brasileiros ficaram perplexos ao verem aquela demonstracao de disciplina e amor aaquilo que eles fazem. E os lutadores ficaram de boca aberta ao verem quatro estrangeiros pela primeira vez.
Pediram para que tocassemos um pouco os tambores. E lah fomos nos. Um pouquinho de congo, ijexa, batidas de samba e para acompanhar a capoeira. Aih, veio outro pedido: que mostrassemos um pouquinho da capoeira. Estavamos de bermudas, cansados e nao estavamos esperando por aquilo. Mas fomos recebidos com tanto carinho que nao pudemos negar. Expressoes de admiracao, palmas e a palavra Brasil sendo dita a todo momento. O professor nos disse que aqui na Indonesia o Silat nao eh assim tao valorizado e que gostaria de fazer exibicoes fora da Asia. Quem sabe um dia nos nao vemos o Silat na nossa terra.
OBS: AS FOTOS REFERENTES A ESTA POSTAGEM FORAM PERDIDAS, O QUE NOS DEIXOU MUITO CHATEADOS. PROBLEMAS TECNOLOGICOS.

Universidades: convidados de honra

Guest lecturer. Nome bonito, falando assim ateh parece que somos importantes. Pelo jeito, aqui somos: foi assim que fomos recebidos em duas universidades. Na primeira, uma sala com mais de 60 alunos, vimos muitas pessoas vestidas como muculmanos tradicionais. Uma faculdade antiga, especie de PUC (visualmente falando). Era na Faculadde de Politica e Ciencias Sociais. Sim, os estudantes de ciencias sociais sao os mesmos por aqui: aquele olhar critico, aquela saudades de Che, aquela curiosidade por culturas "exoticas". Logo no comeco, depois de 10 minutos de introducao, tocamos um pouco de berimbaus e pandeiros e fizemos que eles nos acompanhassem, paar acordarem. Aih, o Cabeleira falou por quase duas horas e eles se mantiveram muito atentos. Perguntas aconteceram ao final, naturalmente. O reitor, o professor, duas professoras de outras aulas, todos estavam lah. Recebemos presentes e diplomas. Na segunda universidade, um outro mundo: faculdade moderna, rica mesmo. Tudo novo, equipamentos de primeira. Juntaram duas salas para a nossa palestra, alguns professores e mais uns 40 alunos. Aqui, a coisa foi diferente. Alguns alunos nao estavam tao atentos, mas os que estavam nao tiravam os olhos e anotavam bastante (depois ficamos sabendo que aquela turma era uma turma especial, considerada de geniozinhos). Nesse dia, jornalistas acompanharam nossa visita e, depois, fomos convidados para um almoco em um restaurante sensacional. Vale registrar a presenca de um professor em especial. Coroa, cabelos compridos e brancos e uma boina estilo Che Guevara. O homem tinha morado nos Estados Unidos, dado aulas na UCLA e NYU. Figuraca, antropologo. Perguntou sobre Chico Mendes e Paulo Freire. Numa boa, esse professor esquerdista seria sucesso na USP.

Cerimonia emocionante


Depois da aula do Marcelo (na verdade, no intervalo para o almoco), vivemos mais um momento de grande emocao aqui na Indonesia. O espaco onde acontecem as aulas de capoeira do Zungu precisava ser inaugurado oficialmente de acordo com as tradicoes indonesas. E eles fizeram isso especialmente para a gente. Um sacerdote indones trouxe comidas abencoadas e cheias de significados. Alem disso, um pote de barro cheio de carvao e incenso estava defumando o ambiente. O homem, vestindo um tradicional batik (indones) e com seu kopyah/songkok (muculmano) pediu que todos se sentassem em roda e se juntou a nos. Comecou a rezar e todos respondiam. Foi incrivel, porque nao entendiamos as palavras mas podiamos compreender tudo. O nomedo Brasil e da Escola Cultural Zungu Capoeira foi repetido algumas vezes e o nome do Professor Caca mais ainda. Eh muito dificil descrever a emocao daqueles minutos. Ateh um dos alunos, que se diz ateu, estava rezando fortemente por nos. Ao final, nos traduziram o que ja sabiamos: o homem estava abencoando aquele espaco, pedindo protecao e sucesso. E tambem orando fortemente pelo Professor Caca e por sua jornada na capoeira e na vida. O arroz de um dos pratos formava uma piramide e o primeiro pedaco (o topo da piramide) foi oferecido ao Caca, com um simbolismo facil de compreender: que a casa estava sendo entregue a ele. Depois, os outros tres brasileiros (Cabeleira, Sorriso e Marcelo) foram servidos. Viajar ao outro lado do mundo para mostrar a capoeira e a nossa cultura jah eh um privilegio, conquistado com muito trabalho. Soh nos sabemos as dificuldades que encontramos pelo caminho e por aqui tambem. Ter uma cerimonia religiosa feita para abencoar apenas uma pessoa e o nosso trabalho foi mais um motivo para agradecer (nesse caso, rezando).

domingo, 29 de março de 2009

Nas ondas do radio

Quantas vezes o portugues do Brasil eh ouvido em uma radio em outro pais? Ou melhor, quantas vezes o portugues do Brasil jah foi ouvido em uma radio de Surabaya?
Fomos convidados a participar de um programa de radio e falar um pouquinho sobre o Brasil nossa cultura, nossa capoeira e o evento.
Foram 4 blocos. No comeco, o locutor (estreante, coitado) sofreu um pouco nas maos dos 4 brasileiros, que tumultuaram um pouco o esquema rigido do programa. Mas, ao final, ele estava mais relaxado e se divertindo bastante. Ainda mais depois de ouvir os berimbaus e o pandeiro tocando.



Olho brasileiro 4











sábado, 28 de março de 2009

Com licenca, jongueiros

Para os que nao sabem, jongo eh uma manifestacao cultural brasileira do Sudeste. Afrobrasileira, extremamente forte e bonita de se ver. O jongo sobreviveu devido aa luta de inumeras comunidades, muitas delas quilombolas, especialmente no Vale do Paraiba. Nao somos de uma comunidade jongueira, mas admiramos muito essa manifestacao. Por isso, aqui na Indonesia, falamos um pouquinho de jongo para eles. Nao somos as pessoas mais autorizadas para isso. Mas quem sabe assim um indones maluco nao acaba indo para Guaratingueta, por exemplo, e dah uma forca para a comunidade. Ou resolve assistir a essa festa no Quilombo Sao Jose. De repente, um dia, eles podem ateh chamar um grupo para apresentar o jongo por aqui. Explicamos a forca das cancoes, os pontos de jongo que tinham (e tem) sua magia, os tambores, a roda. E cantamos um pouquinho com eles, em roda. Arriscamos ateh alguns passos. Alguns disseram que acharam as musicas muito bonitas, para cima, mas com uma certa tristeza, melancolia. Parece que eles entenderam o recado.

Mini indoneses

Criancas sao criancas em qualquer parte do mundo. Demos aulas para as daqui. Foi uma maneira de eles apredenderem capoeira brincando e um pouquinho da cultura brasileira. Os pequenos contavam todos os movimentos em portugues (melhor que os adultos), repetiam os nomes dos movimentos (melhor que os adultos) e fizeram a boa e velha bagunca (bom, aih os adultos sao mais comportados).
Caca, acostumado a dar aula para criancas, fez brincadeiras envolvendo a capoeira e nossa historia. Cabeleira conversou bastante com eles (eles falam ingles, criancas de 3 aninhos). Foi incrivel ver um menininho de apenas 2 anos fazendo movimentos e uma das meninas, de 7 anos, cativou a todos com seu jeito, movimentos e portugues. Claro que aqui tambem existem os demoninhos, que nao ficam nada a dever aos do Brasil. Tanto que o apelido de um deles eh Tagarela.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Arrasta a sandalia, Surabaya


Samba eh o ritmo que define o Brasil. Qualquer manifestacao popular no nosso pais termina em samba. Em qualquer lugar do mundo quando aparece um brasileiro, as pessoas dizem "futebol, samba, caipirinha". Por isso a responsabilidade de fazer uma roda com o povo daqui era enorme.

Muitos jah tinham contato com o samba "de capoeira", samba tocado com berimbau e um tanto quanto baguncado ao final das rodas. Outros jah tinham ouvido sambas mais "modernos". Mas quase ninguem conhecia a historia do nosso principal ritmo ou sabia das diferentes formas como ele eh feito. E nehum pe de indonesa havia sambado um tradicional samba de roda do reconcavo.

Comecamos mostrando musicas de diferentes tipos de samba. Falamos de samba de chula, corridos e muito mais. Mesmo sem entender as letras, todos identificavam as diferencas. Mostramos alguns videos de samba de roda tradicional do reconcavo. Contamos um pouco a historia do ritmo, valorizando os verdadeiros mestres dessa arte, velhos mestres que vivem em condicoes precarias na nossa Bahia.

Depois de tanta teoria (onde jah se viu, teoria de samba de roda...) foi hora de colocar os asiaticos para sambar. E aih, quase caimos de costas. Era soh cantar o coro uma vez que eles respondiam direitinho. Mais afinados que muito coro brasileiro. As meninas dancaram muito, um pouco desajeitadas no comeco, mas melhorando aos poucos e surpreendendo ao final.

Agora, aqui na Indonesia, tudo tambem termina em samba.

Angola

Os indoneses tem sede de conhecimento. E amam tanto a capoeira que o Caca sentiu que estava na hora deles terem um contato maior com a capoeira angola. E, por isso, convidou o Marcelo para vir nessa viagem. Para quem nao sabe, a capoeira angola tem suas proprias particularidades e tradicoes. E nessa semana, pela primeira vez, um angoleiro deu aulas na Indonesia. Foi um dia inteiro de movimentos, conversas sobre ritmo e bateria, explicacoes sobre detalhes. Indoneses e timorenses quase derreteram sob um calor de 40 graus. Mas ainda assim partciparam de uma roda com o coro e a energia lah em cima.

sábado, 21 de março de 2009

Historia


Sexta foi dia de aula de historia. Antes, como sempre, enquanto o pessoal chega, acaba rolando um ritmo. Um samba de roda improvisado, dicas de pandeiro, correcoes de pronuncia.

Duas horas falando sobre a formacao de uma cultura afrobrasileira. Qualquer aula basica de Brasil ou historia da capoeira jah deixaria o povo daqui satisfeito. Em vez disso, resolvemos fazer o mais dificil: dar uma boa aula e nos aprofundarmos em alguns aspectos. O Cabeleira quase enlouqueceu ao dar a aula em duas linguas simultaneamente: ingles e portugues. E, claro, ainda rolava uma traducao para o indones.

Influencia banto no Brasil, escravidao, diferencas regionais, religiosidade de matriz africana, colonia, republica, Guerra do Paraguai, abolicao, Bahia, Recife, Rio, Sao Paulo, manifestacoes como samba, jongo, maracatu, congo, repressao policial. E, claro, tudo isso ligado a formacao da nossa capoeira. Eles estavam tao interessados que daqui a pouco vai ter gente de Surabaya dando aula de historia para brasileiro.

Muculmanos

A Indonesia eh o maior pais muculmano do mundo. E em Surabaya fica a maior mesquita da Indonesia.
No ocidente (gracas aos radicais islamicos que tem feito muito estrago pelo mundo) a imagem que temos dessa religiao eh bem diferente daquilo que encontramos aqui. Dos nossos amigos e alunos, muitos sao muculmanos. E eles sao pessoas extremamente alegres, de bem com a vida. Sambam quando a gente toca um samba, saem para bares, jogam capoeira, tiram muito sarro um do outro, vestem camisetas de bandas americanas como Green Day. Aqui onde foi inaugurada a sede do trabalho de capoeira existe um local reservado para eles fazerem suas oracoes obrigatorias. Mulheres vestem panos na cabeca, sim. E mostrar algumas partes do corpo nas ruas pode ser visto como algo desrespeitoso, como um ombro por exemplo. Mas de resto a vida eh igual.
Nas ruas, alto-falantes propagam a reza ao amanhecer e ao anoitecer. Os nativos indoneses tinham uma religiao muito forte e festiva, que influenciou as outras que chegaram aqui e deixou o islamismo menos radical. Pelo menos aparentemente.
Eh no minimo diferente ver, numa mesquita, um rapaz com uma camiseta de capoeira. Ajoelhado e rezando de frente ao livro sagrado. Mas isso agora acontece sempre- e pudemos presenciar.

Lingua enrolada

Nosso primeiro bate-papo oficial sobre capoeira foi bem interessante. Todos prestaram muita atencao e surgiram muitas duvidas que foram esclarecidas aos poucos. Tentamos sempre contextualizar as respostas, o que acaba fazendo com que respostas simples e praticas fiquem bem longas (nao adianta falar de samba-de-roda sme tentar explicar um pouco do Reconcavo Baiano, dai nao adianta falar isso sem falar da Bahia, dai nao adianta falar da Bahia sem falar da escravidao, de escravidao sem explicar da cultura da cana-de-acucar, da cana sem tocar no assunto colonialismo, do colonialismo sem falar da Africa com seus diferentes reinos, regioes, culturas e riquezas).
E, depois, isso ainda eh dito em portugues (para eles treinarem e para o povo do Timor), em ingles (para a maioria) e indones (javanes e balines nao precisa, gracas a Deus).

sexta-feira, 20 de março de 2009

Convidados especiais


Quinta-feira no fim do dia iria comecar nossa primeira longa conversa a respeito da capoeira e da importancia para os capoeiristas do mundo todo entenderem a cultura brasileira, viverem um pouco de Brasil. Tambem foi o dia de nos apresentarmos oficialmente, contarmos um pouquinho da nossa propria trajetoria e do nosso envolvimento com a cultura popular e a capoeira.

Estava tudo pronto para iniciarmos quando nossos convidados especiais chegaram. Um grupo de garotos timidos e de rostos sofridos, todos muito jovens e descalcos. Eram os convidados do Timor Leste.

Para quem nao sabe, o Timor Leste foi invadido pela Indonesia e, durante muitos anos, sofreu muito nas maos do ditador Suharto. Violencia, guerras civis, destruicao. A independencia do Timor aconteceu apenas em 2002, depois de mais de 450 anos de ocupacao estrangeira.

Esses convidados especiais nao tem nada, apenas poucas pecas de roupas doadas e vivem numa situacao preocupante. Eles sao ajudados por uma menina americana, de 27 anos, que foi a acompanhante deles na viagem. Para virem a Indonesia (o pais que ocupava a patria deles e que foi responsavel pela destruicao de muita coisa no Timor) eles fizeram de tudo, ateh que conseguiram juntar dinheiro com moradores para chegar aqui.

Eles se apaixonaram pela capoeira depois que um brasileiro, que fazia parte da forca de paz da ONU, ensinou aos meninos um pouco da nossa arte. Desde entao, esses orientais de pele escura nao pararam de praticar. Todos afirmam que a capoeira os salvou. O soldado voltou ao Brasil, outro apareceu. Mas ha tres anos eles nao tem nenhum professor e se viram como podem. A ilha inteira tem apenas 2 berimbaus (tinha, porque eles ganharam alguns dos nossos).

Carentes de tudo, uma carencia deles a gente esta tentando suprir: a de capoeira e a de conhecimento pelo Brasil.

Um dos momentos mais emocionantes da nossa viagem foi quando formamos uma roda com todos que estavam presentes. Indoneses, timorenses e brasileiros. O Caca pediu para que eles se intercalassem, um indones e um timorense. Deram as maos e abracos. Antigos inimigos de guerra, ali eles viraram camaradas de capoeira. E pior eh que ainda tem gente que despreza o poder da cultura popular brasileira.

O templo taoista (que mereceu uma postagem aa parte)

No nosso dia mais mais sagrado, comecamos em um templo taoista. Foi uma das experiencias mais diferentes que tivemos. Jah tinham avisado no templo que um grupo de brasileiros (capoeiristas) iria visitar o local e estava tudo preparado para a nossa recepcao.
Era o dia da Danca do Leao e os leoes foram nos receber na porta. Uma duzia de reporteres foi nos receber, apontando seus canhoes para a gente. Realmente, turistas ou ocidentais em geral nao aparecem por aqui e, por isso, eramos mais estranhos que pessoas vestidas de leao.A dona do templo e o mestre da danca do leao foram nos receber. Esse senhor eh um grande mestre de kung fu, o maior da Indonesia e foi ele que retomou a danca que durante anos foi proibida pelo ditador Suharto. Conversamos sobre cultura brasileira, capoeira, dancas e lutas. O mestre disse que vai ao Brasil se apresentar.Depois, fomos orar e conhecer o local. Sao varios os deuses cultuados por eles, imagens indescritiveis. Como numa casa de candomble, cada templo eh dedicado a uma entidade, mas as outras estao ali presentes. Oferendas sao dadas as entidades. Logo na entrada, uma primeira eh o deus da guerra (assim como Ogum). E ali tambem estava sendo muito adorada a deusa dos mares, a quem marinheiros e todos que moram perto do mar pedem protecao (assim como Iemanja).Oramos junto com todos, um momento realmente especial. Nunca vimos tanto incenso aceso, tanta fumaca. Chegava ateh a incomodar os olhos. Terminada essa parte da cerimonia, uma alimentacao coletiva (tambem como no candomble).Aih, fomos convidados a entrar na roupa dos leoes e fazer a danca. Isso eh uma honra para poucos, muito poucos. Ou seja, nao podiamos negar esse mico. Entramos na roupa do leao de dancamos do jeito que conseguimos (ou seja, de um jeito ridiculo). Provavelmente foi a primeira vez que o Leao taoista vestiu Havaianas na vida.
Na sequencia, um momento que pode assustar um ocidental, realmente diferente. Um dos religiosos estava em transe, em contato com os deuses. Ele estava abeancoando as pessoas, doando um papela sagrado para todos. Soh que esse papel tinha uma letra especial escrita com... sangue. Sangue que ele tirava da propria lingua.
Antes de sair, ainda tocamos um pouco junto com os musicos do templo. Eles usam um tambor e pudemos mostrar alguns toques diferentes para eles.
Foi tudo muito diferente, tudo muito bonito. Uma troca de experiencias fantastica, que foi registrada ateh nos jornais daqui de Surabaya (TV e impresso).

quinta-feira, 19 de março de 2009

Olho brasileiro 3



Olho brasileiro 2

Algumas fotos para ilustrar as antigas postagens:

quarta-feira, 18 de março de 2009

Templos e rituais

Resolvemos caminhar pela cidade na manha de quarta (terca a noite aih no Brasil). Andamos por um bairro tradicional e pobre. Surabaya quase nao tem turistas e nao preciso nem dizer que viramos uma atracao. Criancas apontando, pessoas rindo. O povo tem uma simplicidade absurda, uma ingenuidade bonita de se ver e ri de tudo (ainda mais de 4 brasileiros esquisitos de bermuda e camiseta caminhando no meio deles).
Depois, tivemos a honra de sermos convidados a visitar um templo taoista em uma cerimonia que soh acontece poucas vezes, que eh a Danca do Leao. Essa manifestacao foi proibida durante anos pela ditadura do Presidente Suharto e voltou a acontecer ha poucos anos na Indonesia. Esse momento merece uma postagem a parte: reporteres nos recebendo na porta do templo, momentos maravilhosos de fe e devocao, beleza estetica, um numero de danca fora de serie, risadas com os frequentadores do local. Interesse pelo Brasil e pela capoeira por parte de todos, ateh ali no templo.
Saindo de lah, fomos para outro local sagrado, um templo Kong Hu Tjhu. Sao seis as religioes oficiais na Indonesia e esse templo eh de uma delas. Uma casa para onde vao as almas daqueles que morrem antes da hora, um local onde nossas almas chegaram antes de nos. E tambem um templo onde as pessoas se casam oficialmente.
O terceiro templo do dia era o maior templo budista de Surabaya, a beira mar. Uma estatua gigantesca, enorme mesmo, nos saudou. Vivemos o sagrado de diferentes maneiras nesse dia e chegamos a aula de capoeira com o corpo, roupa e olhos cheios de incenso.
Na aula, Professor Caca mostrou movimentos e avaliou os alunos. Mas o mais importante: em uma terra de tantos rituais, ficamos horas contando a eles que a capoeira tambem tem muitos rituais, que os instrumentos e as musicas sao mais importantes que os movimentos, que a riqueza cultural da capoeira estah acima da parte fisica. Caca brincou de fazer com eles um pequeno exame de portugues. Alguns jah sabem um pouco da nossa lingua e mostramos a importancia de entender o que eles cantam. Um dia sagrado.

Zeca Pagodinho: bagus!

Ainda faltam muitas, muitas fotos para serem postadas. Mas o computador que usamos aqui em Surabaya anda com a internet muito lenta. Acalmem-se que as fotos chegarao. Enquanto isso, vamos de texto mesmo.
Sao tantas as informacoes que fica dificil saber por onde comecar a escrever. Na terca-feira tivemos um bate-papo com os alunos de capoeira daqui. Eles t^em tanta sede de conhecimento que o que era para ser apenas uma conversa acabou virando um aulinha de percussao. Informal, mas sensacional. Eles aprendem rapido, tem otimo ouvido.
Experimentamos mais comidas tipicas, conversamos um pouquinho e conhecemos um pouco da cidade, de carro. Na hora de ir embora, uma surpresa: o aluno que nos pegou de carro, indones com familia japonesa, colocou para tocar Zeca Pagodinho. Bagus quer dizer legal, bom, divertido. Esse cara soh conhece o Brasil devido aa capoeira, se interessou pelo nosso pais por causa dela. E, hoje, ama tanto nossa patria que tenta entender o que o bom e velho Zeca quer dizer com "eu deixei de ser pe-de-cana, eu deixei de ser vagabundo...".

terça-feira, 17 de março de 2009

Olho brasileiro






Aeroporto de Dubai, nossa escala. Um exemplo de diferentes culturas convivendo sem problemas.